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domingo, 16 de fevereiro de 2014

A SÍNDROME DAS PRAXES

A SÍNDROME DAS PRAXES

Ao longo da minha vida, e já lá vão uns bons pares de anos, tive a oportunidade de conviver com muita gente. Desde os bancos da escola, passando pelo serviço militar, até ao tempo em que exerci a minha actividade profissional, fui deparando sempre, aqui e além, com um ou outro engraçadinho que sempre sentiu um prazer enorme em puxar dos galões – se os tinha, e, se os não tinha, inventava-os! –, para humilhar o seu semelhante, quer se tratasse de meras “brincadeiras” aparentemente inócuas quer em situações que envolviam já alguma gravidade, até do ponto de vista hierárquico.

A verdade é que, como denominador comum, e não sendo eu propriamente psicólogo, sempre descortinei neles um qualquer handicap traduzido na existência de uma qualquer lacuna na formação da respectiva personalidade. Fosse por se sentirem menos cultos, menos inteligentes, menos capazes, física e mentalmente, enfim… A verdade é que sempre se valiam de um qualquer ascendente para afirmarem a sua “superioridade”, recorrendo a expedientes, qual deles o mais iníquo para achincalhar o outro, como forma de disfarçarem as suas limitações intrínsecas, os seus próprios complexos.

Trata-se, pois, a meu ver, de gente com personalidade malformada ou, se preferirem, deformada. Personalidade que, a seu tempo, deveria ter sido construída de dentro para fora, assente e consolidada em valores morais, intelectuais, culturais, aqueles que realmente estruturam um verdadeiro ser humano cujo respeito se impõe de per si, sem mais artifícios ou teatralizações. Uma personalidade íntegra, bem formada, não carece de máscara, nem de atropelar ninguém para se dar ao respeito. O respeito merece-se, não se impõe; conquista-se pelo mérito, pela virtude, não pela violência, seja ela de que natureza for. Ao invés, esses indivíduos, reconhecendo as suas próprias limitações, tentam afirmar-se de fora para dentro, através da sua imposição, mais ou menos cínica e, por vezes, brutal, aos outros.

Com efeito, trata-se de personalidades de fachada, perversas e perigosas, diria mesmo que albergando um certo potencial criminoso, pois não enjeitarão nunca o ensejo de, face a uma qualquer debilidade detectada no seu semelhante, o humilharem, quiçá causando-lhe estigmas que o acompanharão para o resto da vida, quando não a põem mesmo em risco, como, infelizmente, já tem acontecido.

                                                                             


                                                                                       Porto, 16-02-2014

                                                                                       
                                                                                        (Miguel Henriques)

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