A
SÍNDROME DAS PRAXES
Ao
longo da minha vida, e já lá vão uns bons pares de anos, tive a oportunidade de
conviver com muita gente. Desde os bancos da escola, passando pelo serviço
militar, até ao tempo em que exerci a minha actividade profissional, fui deparando sempre, aqui e além, com um ou outro engraçadinho que sempre sentiu
um prazer enorme em puxar dos galões – se os tinha, e, se os não tinha,
inventava-os! –, para humilhar o seu semelhante, quer se tratasse de meras “brincadeiras”
aparentemente inócuas quer em situações que envolviam já alguma gravidade, até
do ponto de vista hierárquico.
A
verdade é que, como denominador comum, e não sendo eu propriamente psicólogo, sempre
descortinei neles um qualquer handicap traduzido na existência de uma qualquer lacuna
na formação da respectiva personalidade. Fosse por se sentirem menos cultos,
menos inteligentes, menos capazes, física e mentalmente, enfim… A verdade é que
sempre se valiam de um qualquer ascendente para afirmarem a sua “superioridade”,
recorrendo a expedientes, qual deles o mais iníquo para achincalhar o outro,
como forma de disfarçarem as suas limitações intrínsecas, os seus próprios
complexos.
Trata-se,
pois, a meu ver, de gente com personalidade malformada ou, se preferirem,
deformada. Personalidade que, a seu tempo, deveria ter sido construída de
dentro para fora, assente e consolidada em valores morais, intelectuais, culturais,
aqueles que realmente estruturam um verdadeiro ser humano cujo respeito se
impõe de per si, sem mais artifícios ou teatralizações. Uma personalidade íntegra,
bem formada, não carece de máscara, nem de atropelar ninguém para se dar ao
respeito. O respeito merece-se, não se impõe; conquista-se pelo mérito, pela
virtude, não pela violência, seja ela de que natureza for. Ao invés, esses
indivíduos, reconhecendo as suas próprias limitações, tentam afirmar-se de fora
para dentro, através da sua imposição, mais ou menos cínica e, por vezes, brutal,
aos outros.
Com
efeito, trata-se de personalidades de fachada, perversas e perigosas, diria
mesmo que albergando um certo potencial criminoso, pois não enjeitarão nunca o
ensejo de, face a uma qualquer debilidade detectada no seu semelhante, o
humilharem, quiçá causando-lhe estigmas que o acompanharão para o resto da vida,
quando não a põem mesmo em risco, como, infelizmente, já tem acontecido.
Porto,
16-02-2014
(Miguel
Henriques)
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